transparente para amarelado.

Do chá sem cor à textura amarelada.

Querido senhor, quem é você?

por trás do açúcar do chá aquecido que me deu, por trás da sombra fina de seu corpo fraco, por trás de uma idealização, por trás de um sorriso cansado?

Quando te vejo sorrindo, me sinto como uma intrusa.

Uma intrusa que não é sua filha, apenas uma observadora. Talvez, também possa ser o senhor o observador e eu a estranha; por trás das memórias opacas de quando era criança também, talvez.

Via um homem esguio, sempre de terno indo bastante e voltando pouco para casa. Lembro do abraço e do cheiro da minha mamãe, lembro de meus primos grandes brincando comigo, minha vó cantando em coreano, lembro do riacho com das árvores altas e redes, mas não do senhor.

Ah sim, lembro. Lembro do dia que brigou com minha mãe e saímos do ''seu'' quarto, então nos sentamos na cama e ela disse para eu dormir, com calma.

Mesmo depois vários anos de convivência, me sinto insegura perto de você. Como uma jovem conversando com um senhor no ponto de ônibus em uma tarde fria, cinzenta, e comum, mas ouvindo, sem a oportunidade de mudar a expressão.

Fico brava quando arrasta meu silêncio para me falar o que é importante e bom para o senhor, que logo, soa incrívelmente feio para mim.

Naquele dia que brigamos, me senti como uma pequena menina dentro de um corpo de mulher: colocando feridas, rancores, raivas, e lascas da infância sobre o senhor. Não construindo um castelinho, mas tacando-lhe pedras para formar uma nova muralha.

Vi seu orgulho, mas por trás de tudo isso, vi seu vazio...

pai.

Appa, queria as vezes voltar a ser pequena.

Pequena para te dar um abraço forte sem medo e te dizer um ''te amo papai'' como um pequenino da minha dentista fez, depois de gritos de bronca do pai, depois de chorar, soluçar e o procurar.

Tudo isso porque descobri alguém. Alguém que pode cuidar de mim e de você. Alguém que chora mais pelo senhor do que eu:

Deus, Pai de Jesus Cristo.